Mudando ligeiramente de assunto. Um dos livros que mais me chamou a atenção nos últimos anos foi American Psycho (1991), de Bret Easton Ellis, que todos conhecerão. Não que o livro fosse uma obra-prima. Está bem escrito e fundamentalmente ganha pelo jogo de ambiguidade que procura levar até ao fim (serão as "actividades" do yuppie nova-iorquino Patrick Bateman reais ou imaginadas?). No entanto, a caracterização dos personagens é algo superficial, "cinematográfica" no mau sentido. Dentro do género (terror), é um livro entretido, com algumas boas dicas relativamente ao relacionamento com o mundo da prostituição.
No entanto, não é por isso que me ocorreu falar de American Psycho. O livro rodeou-se, até desde antes da sua publicação (foi recusado pela Simon & Schuster pelo seu conteúdo explícito, e só depois publicado pela Vintage), por polémica. Foi vetado (nos E.U.A., lá está) por organizações feministas e outras, que acusaram o livro de ser misógino, grosseiro, sexualmente explícito, violento, etc. - o que não deixa de ser verdade, porque era essa a intenção do seu autor.
Como saberão, o livro estrutura-se em torno de "entradas de diário", onde Bateman vai descrevendo sucessiva e detalhadamente os actos sádicos que vai cometendo sobre amigos, namoradas, prostitutas, sem-abrigo, etc. No entanto, a meu ver, as verdadeiras passagens de terror são os capítulos onde o narrador decide descrever abundantemente as carreiras discográficas e as virtudes de "artistas" como Whitney Houston, Genesis e Huey Lewis and the News! Como é possível gastar tantas páginas com artistas tão destituídos de conteúdo, sem qualquer tipo de crítica, como se fosse o seu promotor musical?! Atenção, Bateman consegue mesmo encontrar "significados profundos" nas canções da "diva" Houston, e afirmar que sentiu uma espiritualidade profunda a ouvir a banda do vocalista com mais ar de baterista do mundo (Genesis)!!
Mais a sério, é óbvio que estes interlúdios fazem parte do plot, convencendo implicitamente o leitor da personalidade lunática de Bateman. Mesmo assim é preciso muito, muito estômago para aguentar dezenas e dezenas de páginas disto... Dou mérito a Ellis por conseguir escrever estes capítulos de autêntico horror e tragédia.
Em jeito de homenagem a esse feito, deixo-vos aqui um clássico que nos vai trazer (aos trintões, pelo menos), muitas e mui belas memórias. Não percam a espectacular cena do tubarão, por volta do minuto 2:10.
Yes it's true (yes it's true...), girl I'm happy to be stuck with you...
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